Apresentamos denúncia ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) e ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-BA) que levanta sérias suspeitas sobre um processo de credenciamento para serviços de transporte escolar.

Foram 18 contratos analisados, que ultrapassam R$ 1,4 milhão, e podem ter sido alvo de um esquema de direcionamento fraudulento para beneficiar um grupo específico de prestadores de serviço, violando os princípios de igualdade e ampla concorrência da administração pública.

A investigação, baseada em dados públicos, aponta para a criação coordenada de 18 Microempreendedores Individuais (MEIs) em um período de tempo extremamente curto, entre 14 de março e 24 de abril de 2025, poucos dias antes do início da vigência dos contratos. O principal indício de fraude é que todos os 18 MEIs, criados para prestar o serviço, foram registrados utilizando o mesmo e-mail de contato, sugerindo uma gestão centralizada e a ausência de independência entre os supostos concorrentes.

As provas anexadas à denúncia demonstram uma série de inconsistências graves. A primeira é a fragilidade financeira dos credenciados. Todos os MEIs possuem um capital social simbólico, entre R$ 500,00(apenas um) e R$ 1.000, um valor incompatível com a responsabilidade de contratos que, individualmente, chegam a quase R$ 100 mil. Essa desproporção sugere que os microempreendedores não teriam capacidade econômica para arcar com os custos operacionais, como aquisição e manutenção de veículos, levantando a suspeita de que atuem apenas como "laranjas" em uma operação maior.

Outro ponto central da denúncia é a conexão entre o e-mail utilizado para criar os MEIs e um escritório de contabilidade com ligações políticas diretas com a atual gestão municipal. Investigações apontam que pessoas ligadas a este escritório prestaram serviços contábeis durante a campanha do atual prefeito e realizaram doações eleitorais. Essa teia de relações políticas e familiares reforça a suspeita de que o credenciamento foi instrumentalizado para retribuir apoios, configurando um potencial ato de improbidade administrativa.

A análise de documentos no sistema e-TCM revelou mais um forte indício de fraude: a padronização excessiva dos currículos apresentados por pelo menos quatro dos motoristas credenciados. Os documentos são praticamente idênticos, com frases e descrições de habilidades copiadas, o que sugere que foram fabricados em massa para cumprir formalmente as exigências do edital.

Além disso, foi identificada uma inconsistência crítica: embora os currículos mencionem e-mails pessoais para cada motorista, o cadastro oficial dos MEIs na Receita Federal foi feito exclusivamente com o e-mail centralizador ligado ao contador. Essa manobra oculta a real independência dos prestadores e fortalece a tese de uma operação coordenada para burlar a fiscalização e direcionar 100% das rotas rurais, que representam a maior parte da demanda, para um grupo controlado.