O Grupo Adicc protocolou, nesta quarta-feira
(5), uma denúncia formal junto ao Tribunal de Contas dos Municípios do Estado
da Bahia (TCM-BA) expondo graves irregularidades em contrato firmado pela
Prefeitura de Morro do Chapéu no exercício de 2021. A investigação, baseada
exclusivamente em documentos públicos e fontes abertas, revela um esquema que
envolve conflito de interesses, fragmentação ilícita de despesas e desvio de
finalidade de recursos públicos.
A Trama Familiar: Três Irmãs,
Uma Empresa e a Prefeitura
Exercício: 2021
A denúncia expõe uma situação no
mínimo peculiar: em todo o município de Morro do Chapéu, apenas uma empresa foi
contratada para fornecer material de expediente à prefeitura. O que chama
atenção não é apenas a exclusividade do fornecimento, mas a intrincada rede de
relações familiares por trás do negócio.
A investigação do Grupo Adicc revelou que a sócia-administradora da empresa contratada, detentora de 50% do
capital social, é servidora pública efetiva da própria prefeitura desde 2006,
ocupando o cargo de Técnica de Enfermagem. Para tentar dissimular sua
participação direta no contrato, foi utilizada uma procuração em favor de sua
irmã (sem vínculo com a prefeitura), outorgada estrategicamente em 05/02/2021, após a fase de cotação do
processo.
Mas a trama não para por aí. Uma
terceira irmã ocupava, no mesmo período do contrato, cargo efetivo de Fiscal de
Tributos e, coincidentemente, foi nomeada em 2021 para o cargo comissionado de
Chefe da Divisão de Dívida Ativa - justamente no ano em que o contrato foi
firmado.
Os Números que Não Fecham:
Contrato de R$ 17.500 Vira R$ 27.643
O Contrato nº 003/2021,
originalmente firmado no valor de R$ 17.500,00, acabou gerando pagamentos que
totalizaram R$ 27.643,09 – um excesso de R$ 10.143,09, representando 57,96%
acima do valor contratado.
A Gestora deve se pronunciar
sobre existências de Aditivos na sua defesa.
Fragmentação dos pagamentos
entre cinco unidades orçamentárias diferentes:
- Secretaria Municipal de Finanças: R$ 8.416,25
- Fundo Municipal de Saúde: R$ 2.799,62
- Secretaria Municipal de Educação: R$ 3.280,52
- Fundo de Desenvolvimento Social: R$ 2.772,41
- Fundo Municipal de Educação: R$ 10.374,29
FUNDEB Possivelmente Desviado:
Material de Expediente Vira "Suprimentos de Informática"
Em uma manobra contábil
questionável, R$ 10.374,29 dos recursos do FUNDEB foram utilizados sob a
rubrica "suprimentos de informática" (código 33903001), quando o
objeto contratual especificava claramente "material de expediente"
(código 33903003). Essa divergência configura desvio de finalidade dos recursos
educacionais, comprometendo verbas que deveriam ser destinadas exclusivamente à
educação.
A Suspeita: Instrução Prévia
para Burlar a Lei?
O Grupo ADICC suspeita que a complexa arquitetura deste esquema - envolvendo procuração posterior à cotação, nomeação para cargo comissionado no mesmo ano do contrato e fragmentação de despesas - não seja mera coincidência e reforça as suspeitas de direcionamento e favorecimento.
Próximos Passos: TCM Deve
Notificar Gestora Municipal
Com o protocolo da denúncia formalizado, a prefeita de Morro do Chapéu terá que prestar esclarecimentos ao Tribunal de Contas dos Municípios quando for oficialmente notificada. O Grupo ADICC antecipa que, desta vez, espera-se que a defesa seja apresentada dentro dos prazos regulamentares, sem a necessidade de pedidos de prorrogação, como ocorreu em processos anteriores.
Nossa função é justamente esta: antecipar as investigações baseadas em documentos públicos, para que quando a notificação oficial chegar, não haja surpresas e a gestora possa se preparar adequadamente para sua defesa", explica o Presidente do Grupo Adicc.
Violações Legais Identificadas
A denúncia aponta violação direta
ao Art. 9°, III, da Lei 8.666/93, que veda expressamente a participação de
servidores públicos em licitações ou contratos com seu próprio órgão. Além
disso, os princípios constitucionais da impessoalidade, moralidade e isonomia
foram frontalmente afrontados.
O caso levanta questões
fundamentais sobre a gestão pública em Morro do Chapéu: Como pode existir
apenas um fornecedor de material de expediente em todo o município? Por que
as irmãs, duas com vínculos diretos com a prefeitura, nomeia como representante a outra irmã, sem vínculo com a Prefeitura? Como um contrato de R$ 17.500 pode gerar
pagamentos 57% superiores ao valor original?
Nota: Todos os dados apresentados nesta publicação foram obtidos através de documentos públicos e fontes abertas, incluindo contratos, processos administrativos e folhas de pagamento disponibilizadas nos portais de transparência. O Grupo ADICC não solicita nem aceita respostas diretas de entidades ou prefeituras, baseando suas investigações exclusivamente em documentação oficial de acesso público.